Entrevista a Bruno Amaral da equipa "LionHearts" de eSports
Realizámos uma entrevista com Bruno Amaral, membro
da equipa “LionHearts” que participa na Liga Portuguesa de eSports organizada
pela Federação Portuguesa de Futebol. Neste momento têm um plantel com cerca de
18 jogadores que são geridos por 2 treinadores. Do ponto de vista institucional
os “LionHearts”, constituídos como associação sem fins lucrativos, estando os
órgãos sociais divididos por um Conselho Directivo, uma Mesa da Assembleia
Geral e um Conselho Fiscal e Disciplinar. O objetivo desta entrevista prendeu-se
essencialmente com a necessidade de compreender em que ponto se encontra o
eGaming em Portugal, e quais as perspetivas de futuro.
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Fontes: https://www.facebook.com/LionHeartsPT/ |
DaD: Como surgiu o eSports em Portugal e nas vossas vidas?
LH: Na nossa
opinião os eSports em Portugal começaram nas “LANs” (Local Area Network) que
vários gamers faziam com amigos ainda numa fase em que era complicado jogar
pela internet. No fundo os eSports começaram a partir do momento em que se
começou a querer competir com outros jogadores com o objetivo de perceber quem
era o melhor. Já nós podemos dizer que começámos a partir de 2011 quando
decidimos abandonar a equipa formada no FórumSCP que tinha uma génese mais
recreativa e social e avançámos com a fundação dos “LionHearts” cujo objetivo
era ter essas características, mas juntando-lhe a componente competitiva.
DaD: Em
que estado se encontra o mercado de eSports em Portugal?
LH: O mercado
de eSports em Portugal encontra-se em franca expansão e aos poucos os
patrocinadores e a própria sociedade começam a olhar para os eSports como um
negócio com potencial e não apenas como um grupo de miúdos que jogam
videojogos.
DaD: Como
é que os eSports se transformaram, num curto espaço de tempo, numa modalidade
com competições organizadas pela Federação Portuguesa de Futebol?
LH: No caso
do Pro Clubs já existem competições em Portugal desde 2011, exactamente a
partir do momento em que decidimos criar os “LionHearts”, pouco tempo depois
começámos a organizar o Campeonato Nacional de Equipas (CNE) e a Federação
limitou-se a pegar no trabalho que estava feito e dar-lhe uma aparência mais profissional
sob a égide da FPF de eSports.
DaD: Este
é um mercado rentável para quem joga, isto é, é possível um praticante viver
única e exclusivamente das competições onde se insere?
LH: Em
Portugal ainda é complicado viver dos eSports, apesar de termos vários
jogadores que têm condições para o fazer. A realidade atual no nosso país ainda
é demasiado a preto e branco, muito por culpa da mentalidade de "velho do
Restelo" tão habitual no povo português. Somos um país que tem imenso
potencial, existem sempre uma mão cheia de "malucos" que têm a
coragem que outros não têm, mas para nos afirmamos definitivamente no mundo dos
eSports é necessário quebrar barreiras e preconceitos na cabeça do povo, mas
também das empresas que têm a obrigação de estarem um passo à frente e olharem
para os eSports da mesma forma que olham para os outros desportos.
DaD: Na
vossa opinião, um praticante de eSports deve ser equiparado para efeitos legais
e profissionais, a um atleta profissional? Porquê?
LH: No
futuro, com todas as condições que lhe possam ser proporcionadas, acreditamos
que deve ser esse o caminho porque os eSports envolvem mais dinheiro e
patrocinadores do que uma boa parte dos desportos tradicionais.
DaD:
Quais são as perspetivas de crescimento dos eSports em Portugal, tendo em conta
o seu desenvolvimento mundial?
LH: O
crescimento tem sido constante e a prova disso é a atenção que atualmente é
dada por entidades conceituadas à volta de jogos como CS (“Counter-Strike”), LOL
(“League of Legends”), ou FIFA. No caso do Pro Clubs esse crescimento ficou
cimentado com a entrada da FPF eSports e da RTP Arena que têm contribuído para
o desenvolvimento do melhor modo de jogo de FIFA.
DaD: Os
patrocinadores em Portugal já começaram a encarar o eSports como um bom
investimento?
LH: A partir
do momento em que temos instituições importantes a querer estar no universo
eSports, é praticamente de forma natural que os patrocinadores começam a
aparecer mesmo que de uma forma tímida. O maior problema continua a ser
conseguirmos que as empresas entendam o esforço e empenho que dedicamos aos
eSports, pois muitos continuam a achar que os eSports são uma cambada de miúdos
que estão para ali entretidos com um qualquer videojogo. Derrubar esse
preconceito é a barreira mais complicada porque depois disso acaba por ser
fácil fazer perceber que no universo dos eSports não existe só a possibilidade
de um retorno financeiro, pois um investimento bem feito pode trazer retorno a
vários níveis, nomeadamente no que toca à fidelização da marca.
DaD: Como
surgiu a oportunidade de criar uma equipa de eSports, os “LionHearts”, e
participar nas competições organizadas pela FPF?
LH: Nós já cá
andamos desde 2011 e participamos em competições de Pro Clubs desde que se
organizaram as primeiras em Portugal. O ano passado surgiu a hipótese de
representarmos o Sporting CP eSports e como nós somos um clube só de
Sportinguistas foi apenas natural que tenhamos cedido a nossa licença de jogar
na Liga Portuguesa (LP) para o Sporting. Infelizmente a época passada não
correu como desejávamos e foi nessa altura que decidimos retomar o nosso
projeto de voltar com os “LionHearts”, o único clube do mundo a este nível
competitivo cujos jogadores são todos adeptos de um clube: SPORTING CP.
DaD: Como
tem sido essa experiência e, quais as expectativas para a Liga Pro Clubs
2018/2019?
LH: Tem sido
muito complicado porque tivemos de começar praticamente do zero. O planeamento
da época passava por chegarmos o mais longe possível na Taça da Liga (TdL) e
começar no Campeonato de Portugal (3ª divisão) porque apesar de acreditarmos
que temos valor e potencial para jogar na LP (1ª divisão), sabíamos que
tínhamos de crescer aos poucos e no futuro fazer valer as nossas qualidades. A
verdade é que surpreendemos muita gente ao vencer o Qualificador que dava uma
vaga na LP, pois defrontámos clubes que já tinham o seu projeto montado desde o
ano passado. Foi um salto enorme ter chegado este ano e já termos conseguido
por duas vezes estar entre as melhor equipas portuguesas, primeiro na TdL em
que fomos eliminados nos Quartos-de-final e agora na LP ao termos vencido o
Qualificador. Infelizmente o calendário na LP ditou que iríamos jogar nas
primeiras 4 jornadas contra as 4 melhores equipas da época passada, portanto,
apesar de estarmos tristes com a nossa classificação actual, temos plena
consciência do nosso valor e do que ainda temos para dar até ao final.
DaD: Para
terminar, será de prever que os eSports sejam considerados uma modalidade
desportiva, entrando até no circuito olímpico?
LH: Acreditamos que todos os gamers e multigamings trabalham diariamente nesse sentido. O futuro não passará por introduzir os eSports nos Jogos Olímpicos (J.O.), mas criar os seus próprios J.O. tal como sucede com os JO de Inverno ou os Paraolímpicos. Será uma competição a nível mundial que terá o objetivo de juntar os vários atletas (gamers) das várias modalidades (jogos) e ver qual o país que leva mais medalhas de ouro para casa. No final de contas é a isso que se resumem os Jogos Olímpicos actuais, não é verdade?
LH: Acreditamos que todos os gamers e multigamings trabalham diariamente nesse sentido. O futuro não passará por introduzir os eSports nos Jogos Olímpicos (J.O.), mas criar os seus próprios J.O. tal como sucede com os JO de Inverno ou os Paraolímpicos. Será uma competição a nível mundial que terá o objetivo de juntar os vários atletas (gamers) das várias modalidades (jogos) e ver qual o país que leva mais medalhas de ouro para casa. No final de contas é a isso que se resumem os Jogos Olímpicos actuais, não é verdade?
Autora: Beatriz de Jesus Gonçalves
Só tenho que elogiar a escolha que fizeram tanto nos LionHearts com no entrevistado! :D
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